quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

20º ao 25º Dia - Vina Del Mar-Mendoza-Uruguaiana-Curitiba - 24/01 a 29/01/2014

Vina Del Mar ficou para trás. Rumamos para Mendoza, na Argentina. Já estávamos preparados para a próxima burocracia fronteiriça. Por outro lado, o percurso que iríamos fazer no dia era de apenas 400 km, bem menos que a média de 800 km que estávamos percorrendo. Além disso, iríamos passar pelos caracoles, com curvas que deixam qualquer motociclista extasiado.

Ao chegarmos na fronteira, havia uma cabine onde um policial parava os veículos, anotava a placa e entregava um papelote carimbado para ser apresentado no local do trâmite, quinze quilômetros adiante. No caminho, o Fábio me mostrou um montanha que se destacava das demais por ser a única que se apresentava coberta de neve. Paramos e depois ele me disse que se tratava do monte Aconcágua. Quando criança, aprendi que era o ponto mais alto da América do Sul. Paramos para tirar fotos. Ventava muito. Quando abri a bolsa que carrego no tanque para tirar o celular, não lembrei que havia guardado os papelotes que o guarda nos entregara e um deles foi-se com o vento. Tentamos pegá-lo, mas não conseguimos. Seria praticamente impossível com aquele vento todo e os abismos que ladeavam a rodovia. Não havia o que fazer, apenas relaxar e tirar as fotos com o Aconcágua ao fundo.


Após curtir o visual do Aconcágua, fui devagarinho na esperança de encontrar o pepelote ainda preso a algum galho da vegetação rasteira da beira da estrada. Mãos no guidon e olho na estrada, eis que avisto um pepel branco preso na vegetação. Páro a moto e rapidamente salto sobre o papelote que já estava se desprendendo. Era o bendito documento. Se o tivéssemos perdido, talvez teríamos problemas mais adiante. Quando chegamos ao local do trâmite, uma fila tripla de carros se formava. Nas fronteiras anteriores, avançávamos e deixávamos as motos na sombra, próximo ao prédio e entrávamos na fila de pessoas. Desta vez, tivemos que ficar na fila, ao sol, com as motos, pois o trâmite desta vez era feito da forma "drive thru". Ficamos mais de uma hora ao sol escaldante.

Mais adiante, fomos compensados pela paisagem dos caracoles. Uma estrada sinistra, perigosa, mas para nós, motociclistas, uma delícia. Várias curvas fechadas de 180 graus faziam formar filas de carros subindo a montanha. Lá em baixo, víamos as curvas que deixávamos pra trás. Não dava para admirar, pois parar não era possível. Filmei grande parte da subida. Em alguns trechos, homens trabalhando fazendo reparos na estrada. Em alguns momentos, usando a força e a agilidade das motos, conseguíamos ultrapassar. Depois, começamos a descer. As curvas um pouco mais brandas permitiam-nos um pouco mais de velocidade. Um excelente campo de prova para aplicar a técnica do contra-esterço que havia lido nas minhas consultas sobre técnicas de pilotagem. Esta técnica permite que se façam curvas de forma mais segura e com menos esforço. É bem simples. Consiste em forçar o guidon da moto para o lado oposto à curva que se vai fazer. Com isso, a moto inclina-se para a curva e a moto segue na direção pretendida. Cada curva era uma emoção. Guardada as devidas proporcões, era quase como ter um orgasmo. Uma delícia.

Passamos por vários túneis por dentro das montanhas até chegar a Mendoza. Havíamos reservado um hostal pelo Booking. Quando chegamos, uma moça com ar de quem acabara de acordar veio nos receber. Guardamos as motos na garagem e ela foi nos mostrar o quarto. Era um quarto pequeno, com duas camas pequenas e sem banheiro, bem diferente do que havíamos reservado. Ela muito falante e simpática, mostrou-nos outros dois quartos grandes com cama de casal e banheiro. Como ficaríamos apenas um dia, deu-nos um quarto para cada um. Dessa vez, bem acima do que havíamos reservado. O quarto ainda carecia de uma arrumação. De repente, lá vem ela com balde e vassoura e começou a fazer uma limpeza básica. "Na minha casa - Mi Casa era o nome do hostal - limpeza é fundamental", disse. Lorena era o seu nome. Muito simpática e nos tratou como se fôssemos da família. Depois conhecemos Jorge, seu marido, que se encantou com as motos e tirou algumas fotos.

No dia seguinte, rumamos para Villa Maria, última cidade Argentina onde dormiríamos, antes de entrar no Brasil. Quando chegamos, ficamos um pouco desorientados à procura de um hotel. Por sorte, passamos por um bar, onde haviam vários motociclistas. Paramos e nos informamos. Um deles se prontificou a nos levar até o hotel que nos haviam indicado. Um dos melhores da cidade. Apesar de muito bom, o hotel não era tão caro. Em torno de 600,00 pesos argentinos. Mais ou menos 60 dólares, pelo câmbio que estávamos trocando.

Acordamos bem cedo na tentativa de rodar um pouco mais e dormir em São Borja-RS, que fica a 180 km de Uruguaiana-RS, onde estava inicialmente planejado passar a noite. Na saída da cidade, observo um barulho estranho na moto. Percebo que a corrente estava folgada e páro em um posto para observar melhor. Após análise - depois verificou-se ter sido muito superficial - resolvo que dá pra continuar e apertar depois. Após andarmos uns trezentos quilômetros, logo depois de passarmos por um pedágio, a corrente se desdentou. Parei e tentei colocá-la no lugar. Observo que a corrente também havia saído do pinhão, o que me obrigaria utilizar ferramentas para retirar a tampa protetora. Vou nas ferramentas que acompanham a moto e percebo que não existe uma chave tipo canhão número 8. Por sorte, bem ao lado do pedágio, existia uma base de assistência para o túnel que passava sob o rio, próximo a cidade de Parana. Arrumaram-me a chave e facilmente coloco a corrente e a reaperto. Fiquei imaginando se a corrente tivesse caído dentro do túnel. Uma lição re-re-re-re-(e haja re)aprendida: nunca deixe para depois o que você pode fazer agora. Devido a isso, tivemos que dormir mesmo em Uruguaiana.



A nossa próxima parada para dormir seria Vacaria-RS, mas resolvemos esticar um pouco mais e dormir em Lages-SC. No percurso, numa parada para reabastecer e inspecionar a corrente, observo que a porca do parafuso que prende a suspensão traseira da moto havia se desprendido. Recorro a um mecânico no posto que imediatamente a recoloca. Até Lages, tive que reapertar a corrente mais uma vez. Percebo que alguns dentes já estão desgastados e fico preocupado se daria pra chegar. Não havia outra solução. Teríamos que tentar, tendo o cuidado de verificar o aperto a cada parada.

Deixamos Lages e rumamos para uma das partes mais esperada da viagem: descer a Serra do Rio do Rastro. Passamos por São Joaquim-SC, uma cidadezinha onde os turistas vão para ver neve. Vimos, é claro, foi muito calor. Tanto que paramos pra tomar uma ducha num posto de gasolina. As placas já indicavam a proximidade da serra. Logo depois de Bom Jardim da Serra, paramos no mirante para visualizar a beleza da Serra do Rio do Rastro onde se avistava a rodovia serpenteando por entre a montanha. Um visual espetacular. Fixei a minha câmera Go Pro na proteção do motor, bem próximo do pneu e comecei a filmar a descida. O Fábio, com mais duas câmeras, uma no capacete e outra na dianteira na moto, também filmava. Não dá pra colocar agora o resultado, pois ainda vou ter que editar. A descida da serra é fantástica. São várias curvas com aproximadamente 180 graus. Paredões de pedras de um lado e o abismo do outro, onde se via muito verde e o colorido das flores às margens da rodovia, fazem da rota da Serra do Rio do Rastro uma das mais bonitas no mundo. Pra que não fiquem de água na boca, abaixo, deixo um link de uma filmagem aérea do local.

http://www.youtube.com/watch?v=29l6IntxKEA


Após curtirmos as belezas da Serra do Rio do Rastro, pegamos a BR-101 e rumamos para Curitiba para terminarmos a aventura.

Ainda escreverei o último capítulo desta saga cujo título será: Crônica de uma viagem anunciada.

Aguardem.






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